Belarmino era um criador do interior do Mato Grosso e como
seus familiares era piloto de fazenda. Desde pequeno visitava as propriedades
da família em aviões, pois – quando chega o inverno – nada passa. Automóvel de
mato-grossense é avião. Falam por aí que foram eles que descobriram a profissão
de piloto-cowboy. Belarmino ao visitar uma exposição de bois, encontrou um
antigo amigo e começou a conversar:
- Estou sabendo que o amigo gosta muito de criar carneiros e
eu tenho um que caiu do céu e trouxe ele para o amigo invejar...
- Pois é, ta aí um bicho bonito e bom. Esta me agradando,
mas só compro amanhã antes de voar. O amigo pode reservar que o bicho vai ser
meu.
A conversa parou por nesse pé. Mas nem bem o homem sumiu e
chega um vaqueiro falando...
- Patrão, não é por nada não mais acho que esse bicho tem
parte do demônio.
Belarmino sacudiu o bigode e disse:
- Deixe disso, homem, pra que o demo ai se importar com um
bicho, se tem tanta gente pior que ele nesse mundo?
- Mas patrão, o bicho já passou por de erva, de areia de
rio, de pólvora mas nem assim teve jeito. Se conselho vale, então compre outro
bicho.
Belarmino olho prá outro, bem lá longe, sem comparação.
- Nem pensar, ou é esse ou nenhum.
Logo de manhã, fechou negócio, pegou o animal de quase 60kg
e foi embora. Chegou ao aeroporto, deu o cabresto para o garoto que ia viajar
de volta para a fazenda e logo levantava vôo.
Nem bem o avião chegou lá no alto, perto do céu, o carneiro
botou a boca no trombone. Começou a berrar, tremia, gritava, babava num alvoroço
só.
- Acalme esse bicho ai, porque vem chuva pela frente –avisa
Belarmino
O garoto fez de tudo para acalmar o bicho mas nada deu
certo. O animal empinava, mordia cabresto e para piorar, botava uma catinga de
bicho morto no ar. Já na metade do caminho, o garoto gritou:
- Seu Belarmino, esse danado ta com o diabo no corpo, com
olhos vermelhos, querendo matar nois tudo.
O bicho gemia e o garoto completou:
- Nem benzedeira ajudou. Acho que é o demônio mesmo. Só vai
trazes azar prá sua fazenda, patrão. E o avião já tá todo borrado.
Belarmino, já sobrevoando a fazenda vizinha, vendo sua
divisa, tomou uma decisão: o animal estava um frangalho, longe de ser aquela
maravilha que ele comprou, todo borrado, fedendo, olhos vermelhos, desafiando-o
com seu olhar.
- - Faz assim, abre a porta e joga, enquanto ainda e terra
do vizinho. Vai ser comida de urubu no inferno.
O garoto deu um sorriso de felicidade, puxou o cabresto e
jogou ele pro céu. Depois começou a limpar o chão e corrigir os maus feitos do
estranho animal cuja história tinha chegado a um final bom. Belarmino
perguntou:
- Uai, menino, será que o carneiro tinha parte com o demo,
mesmo? Será que vai trazer azar prá nos.
Belarmino suspirou e, com toda sabedoria, já com o avião no
chão, escutou um vaqueiro no campo dizendo pelo rádio:
- Júlio, ô Júlio? Aqui é o Braz. Não estou entendendo.
Aconteceu uma coisa estranha, aqui na divisa. Sabe aquela novilha que o patrão
gosta? Então, esta mortinha, no chão com o pescoço quebrado. Não foi onça, mas
tem um carneiro esborrachado no lado, mortinho, durinho, sorrindo que nem um
bicho ruim.
Por João Pedro Cozza